Blockchain: Aplicações

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A tecnologia de blockchain será crítica para fornecer identificação sobre fraudadores, equipamentos utilizados para essas práticas, transações escusas e outros aspectos ilegais que são combatidos por políticas de AML (“Anti-Money Laundering”) e EFM (“Enterprise Fraud Management”). Presenciaremos no Brasil a adoção da tecnologia de Blockchain para o cumprimento dessas políticas tanto pelo setor privado quanto público nos próximos anos.

A tecnologia de blockchain é ainda conhecida pela maior parte das pessoas quase que exclusivamente pelo suporte à criptomoeda Bitcoin. A “Bitcoin Blockchain” gerencia cerca de 200 mil transações diárias ou USD 150 milhões globalmente, sem a necessidade de intermediários financeiros. Fazendo uma analogia, podemos dizer que Bitcoin está para Blockchain assim como um aplicativo está para um iPhone ou Android. Em outros termos, blockchain é a tecnologia que viabiliza a existência e transações com Bitcoins. O fato é que ela pode suportar uma série de aplicações que vão muito além das criptomoedas.

É interessante notar como o desenvolvimento de uma tecnologia que foi criada para dar suporte às criptomoedas resultou em algo que superará em muito os benefícios inicialmente esperados – inclusive aqueles relacionados com as próprias criptomoedas. Blockchain vem se consolidando como uma das tecnologias que gerará nos próximos anos enorme valor para diferentes setores como saúde, entretenimento, comércio, imobiliário, indústria, governamental, entre outros.

No contexto das cidades inteligentes (“Smart Cities”), algumas aplicações que vêm sendo desenvolvidas com a tecnologia de blockchain incluem o armazenamento transparente de arquivos públicos, processos de votação, gestão inteligente de contratos, distribuição de verbas públicas, e decisões distribuídas e participativas que envolvem uma maior interação população-governo. Podemos mencionar nesse sentido alguns exemplos como o projeto do estado de Delaware (EUA), para o arquivamento de informações públicas, e a proposta da prefeitura de Londres, para a implementação da “Mayorchain” visando o aumento da transparência do orçamento da prefeitura e crowdsourcing de ideias para a redução de custos de gestão. Ainda no Reino Unido, o governo federal está executando um projeto piloto para que os pagamentos de pensões à população sejam realizados através de uma rede blockchain com ganhos contundentes de velocidade em relação ao sistema atual.

A tecnologia de blockchain tem o potencial de transformar, tornar mais ágil, seguro e menos custosas as trocas financeiras, a gestão de negócios, manutenção de registros médicos, votações, dentre outras inúmeras aplicações. As economias com processos de controle e validação que hoje exigem a manutenção de recursos humanos específicos serão significativas conforme a blockchain se torna mais difundida.

Uma das aplicações que vem recebendo mais investimentos no contexto da tecnologia blockchain trata sobre os contratos inteligentes, que são basicamente programas que podem traduzir e executar automaticamente os termos de um contrato. Quando uma condição pré-configurada em um “smart contract” é atendida os termos do acordo podem ser executados automaticamente de forma transparente e supervisionada pelos nós da rede blockchain. Por exemplo, poderá ser realizado um pagamento mediante data prevista em contrato ou a autorização para o envio de um produto.

As identidades das partes de um contrato inteligente podem ser mantidas em completo sigilo se assim for acordado entre elas. O mesmo se aplica quanto ao seu conteúdo que pode permanecer aberto para os participantes de uma rede blockchain, por exemplo, para análise e monitoramento do mercado de determinado produto ou serviço, objetos do contrato.

Para ilustrar a diversidade de aplicações da tecnologia de blockchain e o espectro de benefícios que podem ser extraídos nesse sentido vale mencionar o projeto que vem sendo desenvolvido pelo Amazon Bank of Codes (uma criação do Earth Bank of Codes), o Earth BioGenome Project e World Economic Forum, que tem como objetivo mapear os genomas de inúmeras espécies de plantas e animais originários da floresta amazônica. Este grande Big Data de informações genéticas armazenado de forma distribuída em uma rede blockchain ficará acessível para o uso comercial e científico, garantindo que todos os ganhos econômicos gerados com componentes formados a partir de seus dados sejam também revertidos para os países de onde os ativos biológicos são originários, dentre eles o Brasil.

O protocolo de Nagoya de 2010 vem tentando endereçar a questão da identificação da origem desses ativos de modo a beneficiar os países de onde os mesmos foram extraídos, porém trata-se de um processo complexo para o qual há uma série de barreiras, inclusive políticas. A tecnologia de blockchain poderá ser a solução definitiva para a questão. Será atribuída uma identidade digital inalterável a todos os dados biológicos que será monitorada e armazenada pelos nós da rede. Todas as vezes que esses dados forem utilizados os novos registros, após serem autenticados e validados, passarão a integrar o banco de dados distribuído. Dessa forma os benefícios poderão ser revertidos para os países de acordo com a origem de cada ativo.

Além de beneficiar os países de origem, o maior benefício desta rede baseada na tecnologia de blockchain é permitir que o conhecimento seja extraído da floresta e não mais exemplares das próprias espécies. Em outros termos, o mapeamento das sequencias genéticas permitirá a realização de pesquisas e a utilização comercial dos elementos da floresta sem que animais e plantas precisem ser extraídos in loco. Elementos originários da floresta poderão integrar produtos diversos enquanto suas fontes de origem são preservadas.

No próximo post desta série enfocaremos no potencial disruptivo da tecnologia de blockchain. Acompanhe.